Em 1973 soubemos que o irmão mais novo de um amigo havia sido hospitalizado. De repente, outro garoto da minha rua na Shis Norte também caiu doente. Logo, instalou-se uma espécie de pânico, muitas crianças estavam sendo hospitalizadas com uma doença estranha. Na Escola não se falava de outra coisa, a tal doença que andava matando gente. Não havia notícias nos jornais, nenhuma informação das autoridades, era um mistério bizarro que se mostrava real na internação de alguns meninos que eu conhecia. Lembro de meu pai e mãe conversando com vizinhos, um disse-me-disse danado e algumas pessoas usando máscaras e lenços. Tudo é muito nebuloso. O irmão desse amigo acabou morrendo e o outro garoto da rua voltou, tempos depois, surdo. A doença levara sua audição. Era meningite, um surto epidemiológico. Sabemos hoje que o governo militar censurou a informação, não queria pânico entre a população, um país que vai pra frente não poderia ostentar a vergonha de estar doente. O que não sabemos até hoje é o número de pessoas atingidas pela doença, de mortos, de deficientes, há boatos. Meu amigo nunca mais foi o mesmo, tornou-se um garoto triste e calado, exatamente como o Brasil daquela época.
Piano e viola (Taiguara)
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