sexta-feira, 30 de abril de 2010

O Cabo Godofredo

O ano de 1984 foi, para mim, “o ano”. Casei-me em setembro com a dona do Geleca, a princesa de Teresina, a minha eterna cajuína: Josélia. Em agosto desse mesmo ano, participei pela última vez de um festival de música. Era uma sensação estranha, pois em todos os outros festivais eu não era eu, era a Bandanarquia. Agora, já sem a banda, encarei o palco sozinho, banquinho e violão. Os amigos estavam lá, na platéia, torcendo por mim e tomando algumas, só para variar. Havia composto um samba para um grande amigo, o Elídio. Trabalhávamos juntos e pude admirar a figura daquele mineiro fantástico, cruzeirense de coração grande. O Elídio tinha origem muito humilde, foi engraxate, vendeu frutas na rua, comeu o pão... deixa o diabo pra lá. Apesar dessa história de vida, era um cara generoso a não poder, dividia o seu carnê alimentação com as copeiras, o pessoal da faxina, os ascensoristas. Sempre o primeiro a assinar lista de doações para todas as causas. Era muito magro e mal vestido. Na época do frio, usava uma jaqueta da aeronáutica para ir ao trabalho, pois não tinha um casaco decente. Tornou-se o personagem da canção que ganhou o festival de música economiária de 1984. Elídio faleceu há alguns anos, seu corpo foi exposto em jornais populares, virou manchete, assassinaram-no na porta do IESB. Um marido ciumento matou o professor, matou o meu Godofredo Silva. Saudade é foda, mano! Por favor relevem a qualidade caseira da gravação.

A pequena história do cabo Godofredo Silva (Léo)
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http://www.youtube.com/watch?v=0pjh7HdtYJs

Quanto vale um vate

Como um clássico super-herói da Marvel, o Zé tinha dupla personalidade. Durante o dia, trabalhava numa companhia de seguros e a noite, depois do expediente nem tão suado assim, se transformava no músico/poeta/boêmio daqueles 1980 e lá vai pedrada. O emprego como securitário lhe permitia comprar muitos estimulantes e abusar um pouco dos recursos da seguradora. Explico: certo dia, ao ler o “Sangue e batatinhas”, um poema meu a maneira de Oswald de Andrade, que havia participado de um sarau de poesias na UDF, ele teve a brilhante idéia de produzirmos, eu e ele, um pequeno livro de poesias a ser xerocopiado e vendido pela cidade. O livrinho, pelo qual lamento a perda de todos os exemplares, intitulou-se “Condição de existência”. O Zè teve todo o trabalho gráfico de copiar, cortar, grampear, colar. Fizemos uns cinqüenta exemplares. Vendemos quase todos os livrinhos para a platéia que estava no Concerto Cabeças. No palco, que não era bem um palco, o Liga Tripa soprava labaredas.

Labareda (Liga Tripa)
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http://www.youtube.com/watch?v=d5LtotjXfcg

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Cena de cinema

Drummond tem um poema intitulado “Infância”, dedicado a seu grande amigo Abgar Renault, que conclui dizendo não saber, quando criança, que sua vida era mais bonita que a história de Robinson Crusoé. Engraçado como nossa vida realmente oferece uma beleza que raramente nos damos conta. Há certas passagens, em nossa caminhada, que dariam ótimas cenas no cinema e dificilmente nos percebemos disso. Lembro especificamente de um desses quadros inesquecíveis. Em 1982, num Festival de Música, dos vários que participamos, perdemos mais uma vez a competição. Era um evento em que havíamos investido um pouco mais de esforço, até mesmo ensaio tínhamos realizado e olhe que para aquela Bandanarquia (a única banda a honrar o nome) ensaiar era sempre um parto a fórceps. Silêncio! Gravando: A eliminação precoce do festival, todos saindo em silêncio do local do evento, cabisbaixos, carregando os instrumentos e o orgulho mais uma vez ferido. Pense nessa cena, em close o rosto de cada um, a câmera se afastando do grupo e seus instrumentos, só os passos são ouvidos e de repente o Zé começa a dedilhar uma velha canção dos Beatles, primeiro timidamente, logo eu comecei a cantar com ele, e daqui a pouco estávamos assobiando, sorrindo, sumindo na escuridão daquela noite. O Festival era passado, que viessem outros. A música era essa que lhes envio. Como não sabíamos a letra inteira, embromávamos, e isso era o suficiente.


Rocky Racoon (Beatles)
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http://www.youtube.com/watch?v=wNRH7_Kd5Yc

Epidemia e silêncio

Em 1973 soubemos que o irmão mais novo de um amigo havia sido hospitalizado. De repente, outro garoto da minha rua na Shis Norte também caiu doente. Logo, instalou-se uma espécie de pânico, muitas crianças estavam sendo hospitalizadas com uma doença estranha. Na Escola não se falava de outra coisa, a tal doença que andava matando gente. Não havia notícias nos jornais, nenhuma informação das autoridades, era um mistério bizarro que se mostrava real na internação de alguns meninos que eu conhecia. Lembro de meu pai e mãe conversando com vizinhos, um disse-me-disse danado e algumas pessoas usando máscaras e lenços. Tudo é muito nebuloso. O irmão desse amigo acabou morrendo e o outro garoto da rua voltou, tempos depois, surdo. A doença levara sua audição. Era meningite, um surto epidemiológico. Sabemos hoje que o governo militar censurou a informação, não queria pânico entre a população, um país que vai pra frente não poderia ostentar a vergonha de estar doente. O que não sabemos até hoje é o número de pessoas atingidas pela doença, de mortos, de deficientes, há boatos. Meu amigo nunca mais foi o mesmo, tornou-se um garoto triste e calado, exatamente como o Brasil daquela época.

Piano e viola (Taiguara)
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http://www.youtube.com/watch?v=CDh4Kz4UXm4

Verão azulzinho

No verão de 1983 eu estava em João Pessoa. No último dia das férias, saí cedo para Tambaú, pois meu vôo estava marcado para as 13 horas e ainda dava pra pegar uma praia. Caminhava pela areia quando escuto meu nome. Primeiro pensei que era fruto de insolação, depois percebi que era mesmo o Bruno, o Paulão e o Paulo Goiano, no calçadão, acenando pra mim. Vinham de Brasília, de carro, parando de cidade em cidade do nordeste e foram me encontrar em João Pessoa. Disse-lhes que ia embora a tarde e precisava voltar em casa de meus tios para pegar malas, tomar um banho, etc. Insistiram tanto para que tomássemos pelo menos um Chopp, vamos comemorar o nosso encontro, disseram, e eu não resisti. Quando percebi, a conta na mesa ostentava no mínimo uns 20 copos de chopp, era perto do meio dia, e meu tio desesperado com a possível perda do avião foi me resgatar no bar. A idéia do Paulão era embebedar-me para que perdesse mesmo o vôo e pudesse ficar com eles, curtindo as férias. Cheguei no aeroporto em cima da hora, bêbado, suado. Meu tio com cara de poucos amigos e meus amigos com a cara de quem se vê frustrado. Dentro do avião, olhando o céu ensolarado da Paraíba, lembro ainda da voz da Gal cantando Djavan e eu pensando na Josélia: Corre e vai dizer pro meu benzinho, hum, dizer assim que o amor é azulzinho.

Azul (Gal Costa)
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http://www.youtube.com/watch?v=LnbpBsw8DLE

Os meninos azuis

Quando chegava o dia 20, era uma festa. Aquele monte de adolescentes espinhentos, vestidos de azul, enchia os corredores do Conjunto Nacional para gastar o salário de Menor estagiário do Banco do Brasil. Devo esclarecer que entrei para o Banco em julho de 1975 e foi lá que conheci grande parte dos amigos que tenho até hoje: Cleber (o doutor delegado), Urias (que não é o Heep), Bruno (o grande Carlos Bruno), Nelson Luís (o poeta), Sergio Abreu (o nosso Barney Kessel) e muitos mais. Usávamos uniforme, calça e jaqueta azuis, fornecido pelo Banco do Brasil. Minha primeira parada no Conjunto era sempre na Discodil, onde havia umas cabines com isolamento para ouvirmos os bolachões no maior sossego. Não precisa ser gênio para saber que, depois de uma bela hora ouvindo um disco após outro, era sempre expulso das cabines. Lembro da emoção maluca que senti quando o vendedor, meu conhecido, mostrou o que acabara de chegar na loja: Wish you where here, do Pink Floyd, lacradinho, aquele cara pegando fogo na capa. Posso? E ele: não. Poxa, deixa eu ouvir? Cai fora moleque. Como a grana estava muito curta pro meu lado, fiz umas contas na hora, deixo de comprar meu Montcar esse mês... e acabei comprando o disco. Naquela noite, no VIPLAN lotado para o Guará, fui abraçado com meu tesouro tentando decifrar o que dizia aquela letra:

Remember when you were young, you shone like the sun.
Shine on you crazy diamond.
Now there's a look in your eyes, like black holes in the sky.



Shine on you crazy diamond (Pink Floyd)
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http://www.youtube.com/watch?v=vyqgjCKm9nQ

A banda que honra o nome

De todos os integrantes da "mitológica" Bandanarquia (a banda que honra o nome), o Adalbaerto, também conhecido como Zé, é, sem sombra de dúvidas, aquele que mais mergulhou na idéia de ganhar a vida com a música. Enquanto cada um dos outros integrantes da banda seguiu o caminho tradicional (eu e Nelson, bancários; Paulão, na área de Sistemas; César, escriturário e Sérgio, no Judiciário) o Zé, grande compositor e instrumentista, acabou mudando-se para o Rio de Janeiro na década de 80 em busca do sonho. Como músico, tocou em bares, boites, cabarés, praças, hotéis. Até hoje se pode ouvir sua voz afinada cantando velhos e novos blues pela cidade, seja como vocalista do Oficina Blues, seja no projeto Blues de bolso, com o Haroldinho, ou em reuniões etílico-gastronômico-culturais em casa de amigos. Ele me enviou essa pérola de lembrança. Ri-me a nao poder mais. Para aqueles que não conheceram, eis bem a cara da Bandanarquia.
Ave, Zé!


"Não sei em que ano foi, mas garanto que isso aconteceu nos primórdios de nossa amizade. Eu morava no começo do Guará, tinha comprado uma guitarra (ou a banda toda tinha comprado) tipo jovem guarda. Um dia, tomando umas e outras, descobri um sujeito que sabia tirar energia de um poste. Na loucura do momento, aproveitei para inventar um Mega show em um estacionamento próximo. Falei com a Bandanarquia e todos toparam. Eu ainda não era um sócio remido da banda, mas queria tocar. Com o aceite de todos, fui à prefeitura, secretaria cultural, coisa que o valha, obtive a aprovação para o show no período da tarde de um sábado ou domingo qualquer. Como não tínhamos todo o equipamento (amplificadores e tal), convidei uma banda que estava fazendo um pequeno sucesso nas festinhas: o Cabeça Solta. Eles tinham um baixista chamado Pedro Luis dos Santos Martins, atual baixista do Oficina Blues. No dia marcado, veio o cara que tirava energia do poste, veio a banda, eu apareci e ficamos esperando, esperando, esperando...zzzzZzZzZ...A Bandanarquia não deu sinal de vida. O estacionamento estava lotado com o público do Cabeça Solta. Desnecessário dizer que não houve show, fui xingado pelo público e até pela banda. E a Bandanarquia? Estavam todos bebendo no Taboca, bar da tia do Sérgio. Naquela época, acho que eu tentava ser intelectual e ouvia chicos e caetanos, fagneres e afins. Pra não explodir de raiva, disse pra mim mesmo: Manera, frufru, manera."


Cavalo Ferro (Fagner)
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http://www.youtube.com/watch?v=UXLQEkRcgfg

Do barro ao pó

Entrei na QE 19 em novembro de 1973, num caminhão carregado de bananas. O motorista, amigo de meu tio, em Jataí, onde eu passava uns dias, nos trouxe, a mim e minha mãe, até Brasília e eu, pela primeira vez, encarei a terra (bote terra nisso) prometida. Vindo da SHIS NORTE, vilazinha popular urbanizada, chamaram-me a atenção os muros, que eram baixinhos, três fileiras de tijolos, por isso todos os vizinhos se viam. Os conjuntos de casas coloridas, cores vivas em padrão: o conjunto A, amarelo, o B, azul, o C, verde, o I rosa, o L, verde, o M... e assim por diante. Em 1974 os motoristas de taxi se negavam a adentrar o Guará 2. Quem viveu aquilo, sabe do que estou falando. A lama, em tempos de chuva, e a poeira, na seca, espantavam os taxistas. Nessa época, saía da EIT ao meio dia, corria para um ônibus da Viação Pioneira e vinha para o Guará, rodeando o barro original daquela cidade. Essa canção, que ouvi no rádio de pilha de um cobrador, me lembra exatamente aqueles dias do gênesis, ou seja, daquele barro fez-se o Léo e todos os outros cinqüentões que, hoje, andam por aí acordando pra trabalhar, correndo pra trabalhar...Por ora, é isso pessoal!


Capitão de indústria (Djalma Dias)
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http://www.youtube.com/watch?v=scdNn8M3qME

Barrados no palco

Era um sábado chuvoso no início dos 1980. A Bandanarquia tinha sido convidada para tocar na formatura do pessoal do Colégio Maria Auxiliadora. Lá fomos nós. O Dodge Polara do Sérgio cheio de caixas e amplificadores. O Geleca azul da Josélia com outros badulaques. Aquela tralha toda carregada para o palco, montada, afinada, tumbadoras, bateria, violão, baixo, guitarra, voz. Nervosismo, o auditório lotado. O Nelson era o mais animado e aparentava uma tranqüilidade enorme. Tinha se produzido para o grande show: óculos escuros fantásticos, tênis, calça, camiseta, tudo colorido, bem na estética daqueles anos esquisitos. Mas nada deu certo. O pessoal do som, e o próprio som, era muito ruim. Ninguém conseguia ouvir o que a gente cantava. O Nelson se esguelando, Paulão batendo forte nos tambores, o Cesar na percussão, Régis (o animal) fazendo a festa na bateria... e nada. Só microfonia, silêncio e...vaias, um montão delas, num crescendo terrível. De repente um grito de “Fora, fora, fora”. Pegamos nossas coisas diante do auditório lotado e inamistoso. Saímos para a rua, embaixo da chuva, carregando amplificadores, instrumentos e o orgulho ferido. Talvez tenhamos sido vistos pela madrugada comendo um hot dog vulgar.


Barrados no baile (Eduardo Dusek)
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http://www.youtube.com/watch?v=nthqY0s8h0E

Coisas do coração

Pense num cabra arretado de bom. Multiplique por dez. Acrescente doses fartas de generosidade. Pronto, você está quase perto do que é o Cesar. Esse sujeito entrou na minha vida lá pelos 1970 e rapadura, acho que 1978, fomos apresentados porque ele precisava de música para participar do Festival do Objetivo, o FICO. Fizemos uma canção, a muitas mãos, sei que o Cacá também participou desse samba enredo (não era um samba, digo logo). Esse menino de Caruaru tinha os quatro pneus e estepe arriados pela tal da Eliana e foi num FICO desses que o pau quebrou (sem quebrar na real). Estávamos todos no Ginásio de Esportes e o Cesar, ao meu lado, sentindo-se traído, cuspia cobras e lagartos contra “aquela” (leia-se: Eliana, ou Liu). Como o festival estava chato, resolvi ir embora e o Cesar veio comigo, sempre tecendo grandes elogios inversos “aquela”. Lembro bem, sentamos no meio fio da comercial da QE 19, era madrugada, bares fechados. Peguei o violão e ficamos cantando, incomodando a vizinhança, uma canção de Belchior. Não sei se ele pensava em Caruaru, eu com certeza não pensava em Campina Grande.


Fotografia 3 x 4 (Belchior)
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http://www.youtube.com/watch?v=KE4aDy9EIP4

O poeta das Geraes

O Nelson é um grande companheiro de estrada, mesmo distante fisicamente, politicamente, futebolisticamente, e isso comprova que amizade que é amizade mesmo, prescinde dessas coisinhas da vida real, né? Conheci o Nelson e sua família de mineira doçura e alvoroço (são cinco irmãs, um irmão, primos, agregados, um mundo vindo das Geraes) em fins dos anos 1970 e desde então partilhamos muitas histórias, muitas parcerias, muitas canções e confidências. Recebi essa contribuição do Nelson a esse projetinho Mp3 e memória e faço questão de partilhar com todos vocês. Por conta disso, desses registros mnemônico-musicais, é que estou pensando em criar um blog com esse nome, MP3 & memória, para que todos possam comentar, contribuir, trocar idéias e memórias. Pretendo "postar" todos os arquivos que enviei até agora, só nao sei como farei pra botar um link para os arquivos Mp3, mas vou tentar. Darei notícias. Por ora, segue o texto do Nelson, afirmando que quem recebe a colher de chá sou eu e a galera para quem envio essa mensagem:

"A primeira vez que vi seu pai foi por volta de 1973. Ainda não te conhecia - isto só foi ocorrer em 1977 ou 78. Fomos meu pai e eu tratar de qualquer assunto com meu primo Lázaro numa instalação da Rádio Nacional, ao lado do estádio Pelezão, em algum terreno muito próximo do atual Casa Park, ali perto do Park Shopping. Seu Léo era colega do Lázaro. Eles trabalhavam num galpão meio bagunçado e cheio de fios elétricos. Para demonstrar a alta voltagem de um fio, meu primo pegou uma lâmpada fluorescente comprida e a aproximou do fio. A lâmpada se acendeu mesmo sem estar ligada e sem reator. Obviamente fiquei assombrado. Durante essa visita, meu primo disse: "Tio, vão construir aqui perto um mercado tão grande que vai vender de agulha a avião". Era nada mais nada menos que o Carrefour, mas ninguém sabia o nome ainda. Detalhe, nunca vi venderem agulha no Carrefour. E avião, só passando no céu da Candangolândia, ali pertinho.
Léo, me dê um colher de chá e mande este meu complemento como mais uma mini-crônica, acompanhada de outra pérola musical."


Kung fu fighting (Carl Douglas)
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http://www.youtube.com/watch?v=jhUkGIsKvn0

Bárbara doçura

Pulei das cadeiras para a quadra, a multidão foi se aproximando do palco, todos embasbacados. De repente, ali, na minha frente, os pés de Maria Betânia, olhei-a diretamente nos olhos e ela sorriu para mim. Acredite se quiser, eu vou morrer jurando que Betânia sorriu para mim naquela noite. Meu olho espichava para o lado e lá estava Gil, com uma malha branca colada ao corpo, rebolando, saltitando, sem sonhar que algum tempo depois estaria preso em Floripa por conta da erva. Gal era uma escultura de feromônio sobre o palco, colares, umbigo e reentrâncias só imaginadas. Caetano, que nem sonhava cair em Brasília, fazia seus trejeitos num banquinho, ainda não era uma neguinha. O adolescente que fui um dia não esquece daquela noite, tão perto dos bárbaros baianos invadindo, com amor no coração, o Ginásio de Esportes. Juntara uma grana esperando esse show e não perdi um segundo sequer da apresentação. Hoje, quando vejo a superprodução de qualquer espetáculo, vejo como era milagroso aquele show de 1976, sem grandes luzes, sem grandes amplificadores, apenas a história da música popular brasileira desfilando diante dos meus olhos extasiados... quero ser sempre menino, ah são joão, xangô, menino.

São João, Xangô menino (Doces bárbaros)
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http://www.youtube.com/watch?v=0-ajY7s5NwU

O poeta da ave branca

O Cacá é poeta. Poetaço. Milita com cultura na Tribo das Artes, mas antes de ser o militante das letras, Cacá foi meu amigo na Escola Industrial de Taguatinga nos idos 1970 e rapadura. Namoramos a mesma namorada, em momentos diferentes, é claro, afinal de contas não éramos tão moderninhos assim. Quando fiz 18 anos, aprontei uma festa para celebrar a data. A galera veio em peso, uma festinha com luz negra, luzes coloridas, o fundo de lá de casa parecia uma boate. O Cacá apareceu com um presente que nunca me esqueci. Aprendiz de alfaiate, a profissão do pai, ele mesmo fizera uma calça para mim, a partir de uma calça que minha mãe, na encolha, havia lhe cedido como medida para esse fim. Usei essa roupa até que ela virasse punk, esgarçada, rasgada. Cacá, além de poeta, é uma figura inesquecível na minha vidazinha chata. Essa música lembra bem quando, adolescentes, nos corredores da EIT, a gente aprendia a tocá-la, cantando com uma alegria besta de quem ainda não tinha carnês de prestação a pagar. Bons tempos. Evoé, Cacá!

Canto do povo de um lugar (Caetano Veloso)
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http://www.youtube.com/watch?v=U7n26lWsJsI

A hora do espanto

Meus pais chegaram em Brasília, vindos de Campina Grande, na Paraíba, em julho de 1962, depois de sete longos dias de viagem. No início, morávamos no acampamento da Rádio Nacional, no meio do cerrado. Da minha infäncia nesse lugar guardo uma lembrança insólita e tenebrosa. Uns amigos do meu pai, evangélicos, me convidaram para um culto. Lembro bem dos testemunhos, sob a tenda que parecia um enorme circo. Um homem, não sei se pastor ou apenas um fiel da igreja, começou a dizer, aos berros, que Satanás estava solto e procurando almas. Na minha cadeira e insignificância, tive a impressão de que ele gritava para mim: Cuidado, irmão, Satanás está esperando para te pegar. Nao sei se as palavras eram exatamente essas, mas era isso o que eu entendia e o que eu me lembro de ter ouvido. Para piorar o meu pavor, o cara começou a dizer que tinha visto uma mulher, descrente, ser toda mordida por um espírito invisível que era o próprio Satanás. Nao esqueço o desempenho cênico desse homem, como náo esqueço o terror que me concedeu. Naquela noite, e noutras noites seguintes, eu nao consegui
dormir direito, mas para atenuar meu pesadelo lembro de uma canção que vinha da televisão, e que me trazia um pouco de calma.

F Comme Femme (Adamo)
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http://www.youtube.com/watch?v=0UlAJZIUSfU

Cesar & Liu

Cesar e Liu casaram-se aos 18 anos e estão juntos até hoje. Ele, nosso percussionista da terra de Naná, ela, sua primeira-dama. No início dos 1980 eles moravam na sobre-loja de uma comercial no início do Guará 1. Enquanto todos morávamos com papai e mamãe, eles viviam sua independência com o suor do rosto. Sua casa, como o ateliê de Anita Malfatti reunindo mordernistas, era o nosso porto seguro. A gente se encontrava sempre na casa de Cesar e Liu, alguns ate abusávamos dessas visitas, deixando os anfitriões em algumas saias-justas. Noites inteiras bebendo, comendo, fumando, ouvindo Ednardo, Fagner e Belchior. Cantando Raul, comentando festivais, tricotando. Subir aquelas escadas era sempre um prazer, descê-las uma vontade de voltar. Diga de novo e seremos felizes pra sempre.

Enquanto engoma a calça (Ednardo)
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http://www.youtube.com/watch?v=JJ0i7z4AY58

A chuva seca de Goiania

Estávamos na rodoviária de Goiânia, eu, meus irmãos e minha mãe, esperando o ônibus que ia para Jataí. Era uma tarde de calor infernal em 1970 e a gente se divertia correndo pela rodoviária cheia de gente vindo e indo sabe-se lá de e para onde. A gente tinha chegado lá, vindos de Brasília, ainda pela manhã e o ônibus para Jataí só sairia na manhã do dia seguinte. Resultado: todos na rodoviária, com malas e pacotes, pouco dinheiro, jogados pelos bancos. Era preciso paciência e minha mãe nunca foi lá de ter muita paciência. Nisso nos parecemos... e muito. Com puxões de orelha e cascudos bem aplicados, anos de treino, ela tentava nos dominar na algazarra típica das crianças sem ter o que fazer, no calor infernal de uma tarde goiana. Lembro dela nos forçando a sentar ao seu lado, dizendo: pára um pouco, ouve a música. Havia uns auto-falantes no teto da rodoviária e eu fiquei curtindo uns caipiras americanos falando de chuva, e eu nem sabia o que eles estavam dizendo.

Have you ever seen the rain (Creedence Clearwater Revival)
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http://www.youtube.com/watch?v=TS9_ipu9GKw

Grace Benedita

Grace Benedita era a encarnaçao carnavalizada de Janis Joplin. Tínhamos a nossa Janis e ela era especial, pois era diferente. Nossa cantora de blues chamava-se Hideraldo, um palhaço de bom coração que nos brindava com sua interpretaçao caricata da blueseira de Port Arthur/Texas. Algumas das figuras que orbitavam o núcleo da Bandanarquia tinham também seus talentos e se nos ofereciam sempre, nos bares, nos churrascos, nos acampamentos (que eram frequentes e dos quais eu muito raramente participava). Assim, tínhamos Hideraldo e sua performance de Janis pela incorporação do personagem Grace Benedita. Tínhamos um conhecido que emitia os agudos de Garfunkel em Bridge over trouble water. Tínhamos o Bruno em seus passos de dança. Ser jovem é sempre um summer time... ou não?

Mercedez Benz (Janis Joplin)
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http://www.youtube.com/watch?v=C-GFqhCq2HA

Nós, por exemplo

A Bandanarquia começou a surgir em fins de 1978, quando nos encontramos, no LASER, eu, Nelson e Zé Adalberto. Até então, tocávamos em festivais de colégios e no meio da rua, bebendo Chapinha e Coquinho (entre outras cositas). Logo faziam parte da trupe, Sergio, Paulão e o Cesar. A idéia sempre foi fazer música sem muita disciplina, ou seja, queríamos todos ir para o céu sem rezar. Participávamos de todos os festivais possíveis: FLIMPO, FICO, AEB, etc. Tínhamos boas canções, maus instrumentos, excelente bom humor e disposiçao para honrar o nome da banda. Resultado: não levávamos nada, ou melhor dizendo, levávamos noites de divertimento e festa, e frustraçao com outro festival perdido. Mas, como gostávamos de cantar: vai ter que atchurar. Um esclarecimento: eu nao tenho mesmo informado detalhadamente os dados referentes äs musicas que envio (cantor,compositor, ano de gravaçao, etc.), e nem pretendo fazê-lo. Mas nesse caso, abro uma exceção. Esse é o único registro da Bandanarquia, gravado precariamente no sindicato dos Bancários, creio que em 1982. A música é de autoria do Zé Adalberto, intitulada No colo da serra. Arranjos são da própria banda. Nos vocais,Nelson, Léo, Zé, Sergio, Paulão e Cesar;nO baixo, Zé; violões, eu e o Sérgio; na percussão, Paulão e César. É isso.

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http://www.youtube.com/watch?v=Izwnuky0Qbs

La revolución

Em 1979 eu fazia o curso de Letras no CEUB. Uma grande amiga dividia comigo as aulas matutinas de literatura e latim: Cintia. Seus pais, Seu Ivo e Dona Norma,são figuras inesquecíveis para mim. Um casal de grande inteligência e cultura e que me fez enxergar o mundo de outra e melhor maneira. Nessa época havia um boom da musica latino-americana por aqui e por conta dessa visibilidade toda Mercedes Soza, Violeta Parra e Vitor Jara nos eram tão familiares quanto Chico, Gil e Betania. Costumava levar meu violão para a faculdade e, nos intervalos ou quando matávamos alguma aula, ficávamos ao sol, tocando la nueva cancion de latino america, imaginando charangos e zampoñas. O CA de Letras promovia showzinhos ao ar livre e eu participava tocando e cantando essas músicas. Num primeiro de maio fui convidado, nao lembro por quem, pra tocar na praça do relógio, em Taguatinga. E fomos com a cara e a coragem, Cíntia e eu. Em pé, diante de vinte gatos pingados, cantamos algumas musiquinhas de Peru, Bolivia, Chile, Argentina. Me sentia a reencarnaçao de Victor Jara e a Cíntia era uma mistura de Joan Baez com Violeta Parra.

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http://www.youtube.com/watch?v=8DjDq5UZn5c

Aumenta que isso aí é roquenrou

Quando o pessoal da Legião, da Plebe e do Capital estava começando a gravar seus roques, a Bandanarquia (que sempre fez juz ao nome), estava bebendo e tocando baladas e mpbês. Nao que fossemos Tinhorões da música brasileira, gostávamos de tocar e cantar muito roque também e esse gosto pelo som das guitarras vinha de longe. Todos ouvíamos Beatles, Rolling Stones, uns mais, outros menos, mas como todo garoto dos 1970 e rapadura, também amávamos os Beatles e os Stones. Começamos ouvindo Rita Lee e seu Tutti Frutti, o Made in Brazil, o Terço, os Mutantes, Matuskelas e, no meu caso, o Casa das Máquinas. Isso tudo para registrar uma lembrança antiga desse embate mpb (antenados/engajados) e roque internacional (alienados), bem típico dos anos 1970. No conjunto N, morava a Fatinha Piço, cândida criatura, que tinha uma irmã engajada, estudante de sociologia na UnB, politizada até o último pentelho. Ao me ver com um bolachão do Casa das Máquinas, partiu para cima com um discurso que deixaria Dilma Roussef como um cordeirinho. Fiz um sinal de paz e amor e reagi na boa, cantando a canção em anexo. Aumenta que isso aí é roquenrrou.

Casa do Rock (Casa das Máquinas)
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http://www.youtube.com/watch?v=pfXeRkkBXlc

Nos bailes da vida

O Cleber foi a primeira criatura que conheci e fiz amizade no Guará, isso em 1974, jogando bola num campinho de terra que existia entre a QE 19 e a 32. Em 1978 tínhamos diversos discos. Os meus eram mais de rock e os dele eram da Motown e das bandas negras de funk e soul. A idéia de montarmos uma parceria para oferecermos nossos serviços de DJ em festinhas surgiu com facilidade. O Urias entrou como sócio capitalista, comprando uma luz negra (e reator) para o show de luzes da nossa equipe de som. Nosso primeiro (e único) contrato foi com a mãe da Marcinha Pezão, que nos incumbiu de animar a festinha da filha na QE 32 (ou 28? nem me lembro mais). A festinha corria às mil maravilhas, rolando Commodores, quibes,Stylistics, empadinhas, Rolling Stones, refrigerantes, Led Zepellin... até que passaram a pedir Lady Zu. Cadê Lady Zu? Toca aê a Lady Zu. Não tínhamos a tal da Lady Zu que, naquele tempo, fazia um sucesso danado na trilha sonora da novela Dancin Days. Lembro do comentário de uma convidada da tal festinha: Poxa, vocês não tem nem aquela música das Frenéticas? Que merda! Não, dona, nao tinha mesmo.

Hora de União (Lady Zy & Totó)
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http://www.youtube.com/watch?v=B438eklq_DY

O nego Celso

Nego Celso era uma figura escrotésima. Descolava uma grana como baterista em grupos de baile. Creio que até hoje sustente-se assim. Era um sujeito sem muitos escrúpulos, cheio de papo de aranha, enrolava qualquer um. Naqueles primeiros anos de Guara, por ser o mais velho dentre a galera que habitava a QE 19, Nego Celso reinava com sua lábia descarada. Aos poucos fomos percebemos que aquele sujeito não deveria ser levado muito a sério, sob pena de ser engrupido e sacaneado. A música era o que me permitia manter um certo relacionamento com o Celso, pois nunca fomos com a cara um do outro, apesar de morarmos no mesmo conjunto. Lembro dele berrando o refrão dessa canção que envio e eu pensando que o refrao era o próprio Nego Celso.
Mais uma...até que se esgote.

Canalha (Walter Franco)
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http://www.youtube.com/watch?v=3flZ6eFwGB8

O pai do Terço

Conheci Jorge Amiden em fins de 1978, nos estúdios da Rádio Globo FM. Eu não botei muita fé quando ele me disse que era um dos fundadores do Terço. Fiquei cismado, pois o cara não batia bem da bola (soube depois que eram marcas de viagens e mais viagens). Um dia ele me chegou no estúdio, onde eu estava tentando um estágio, com alguns álbuns do Terço e para meu espanto, na capa de um compacto dos caras, quem encontro? O próprio, Jorge Amiden, com uma tritarra (ver foto em anexo também). Hoje é fácil encontrar informações sobre quem quer que seja, é só clamar no oráculo do Google e lá nos vêm aquelas incontáveis páginas de dados, a maioria sem credibilidade, mas naquela época tudo era mais complicado. Só mesmo tarados e aficcionados pelo bom e velho rock and roll sabiam quem eram as bandas, quem eram os músicos. Eu era apaixonado pelas canções do Terço, dos Mutantes, do TEllah (uma banda progressiva aqui da cidade). Jorge Amiden desapareceu no tempo, talvez tenha se tornado uma criatura da noite.

As criaturas da noite (O Terço)
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http://www.youtube.com/watch?v=0xiaR9ycT0A

A esperança sobe a serra

É curioso como determinadas canções têm o dom de nos transportar para outro tempo, outro lugar. Meu avô Olívio tinha completo pavor, absolutamente irracional, em ouvir Asa Branca. Dizia que trazia azar pra vida dele. Eu, de sacanagem, gostava de tocar Asa Branca perto dele e ele saia correndo. Nao me consta que tenha, por isso, sido desagraciado. Também é muito engraçado que algumas delas nos lembrem fulano ou beltrano, seja por que o fulano goste muito da canção ou a deteste. Associa-se imediatamente: tal música é a cara de ...a cara do Nelson. Quando integrávamos a Bandanarquia, aquela banda Porcina (que foi sem nunca ter sido), era comum passarmos mais tempo nos bares que nos ensaios. Nessas ocasiões etílico-musicais, quando nosso repertório incluía sempre os previsíveis Caetano, Chico, Milton, Lulu Santos, Djavan, Zé Ramalho e Raul, o Nelson, num intermezzo de grande sensibilidade, sempre emendava essa belíssima canção de Lamartine Babo. Coisas de Nelson Luís, o poeta sem hóspede e com morada.

Serra da boa esperança (Lamartine Babo)
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http://www.youtube.com/watch?v=mahECkzs8fI

Canções da selva

No início dos 1970, a noite era sempre acompanhada de nossas risadas, moleques da QNJ 36, na SHIS NORTE, jogando bola na rua, brincando de pique-esconde, carniça, finca, bolinha de gude. Certa noite, lembro bem do Seu Alberto, pai de uns amigos, correndo desesperado pelo fundo das casas, perseguido por uns sujeitos estranhos. Seu Alberto desapareceu, era comunista e a ditadura não era nada branda como nos diz hoje o pessoal da Folha de São Paulo. Na televisão rolava mais um dramalhão da Janete Clair e um B.J.Thomas cantava (e nos empapuçava com) o Rock and Roll Lullaby. A sorte é que havia gente boa fazendo música para os folhetins e essa canção é um exemplo disso, o tema de abertura de Selva de Pedra é assinado por Marcos Vale.

Tema de Selva de Pedra (Marcos Vale)
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http://www.youtube.com/watch?v=uYA7JKD7OPk

Conheci o Zé Adalberto em 1978, no Laser, um cursinho pré-vestibular na asa sul. O Nelson nos apresentou no intervalo de uma das aulas. A paixão pela música foi o combustível de nossa amizade. Nesse mesmo ano, acho que por idéia do próprio Zé, conseguimos ensaiar algumas de nossas músicas e marcamos um show no Teatro Galpãozinho, ali mesmo, perto da Escola Parque. Batizamos o espetáculo de "Viva o João" e tinha algo a ver com o Figueiredo. De repente, estávamos lá, no palco, meia dúzia de adolescentes (eu tinha 18 anos, o Zé, 17, o Nelson, também 17) cantando aquelas músicas que a gente só mostrava para poucos amigos. O Ralf, um alemão enorme, nos acompanhava na viola. Havia um baixista, nossos violões e um sonho enorme movido a acordes de guitarra. Foi uma das poucas vezes que ganhei dinheiro com música, ao contrário do Zé que hoje canta no Oficina Blues e continua compondo baladas e roques maravilhosos. A canção em anexo fazia parte de seu/nosso repertório pelos bares da vida e me lembra que hoje ainda é dia de rock.

Hoje ainda é dia de rock (Sá, Rodrix e Guarabira)
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http://www.youtube.com/watch?v=vX2L4GNtSWc

Lereno

O pior de estar vivo não é propriamente viver, nem saber que a morte nos espera. Creio que o pior mesmo é perder amigos nesse caminho sobre a terra. Sou um felizardo, pois meus companheiros de velhas quebradas ainda estão fazendo sombra sobre o mundo, respirando, produzindo, movimentando-se cada um em suas possibilidades. Mas há perdas e, mesmo a gente superando essas pequenas tragédias, fica sempre a lembrança daquele que cruzou o seu caminho. Lembro do Lereno, um gordinho animado que habitava a 412 sul e estava sempre com a gente pedindo pra tocar tal e tal canção. Era um sujeito alegre e prestativo, conheci-o por pouco tempo. Aparecia sempre empolgado quando nos reuníamos para ensaiar para algum festival ou simplesmente tocar, tocar, tocar. Um dia chegou a notícia que o Lereno morrera, assim, simples assim: O Lereno morreu. Talvez no rádio tocasse essa canção e a maré da vida lentamente nos cobrisse.

Nuvem passageira (Hermes Aquino)
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http://www.youtube.com/watch?v=PtOXZkaduvY

Chico City

Hoje o Chico Anysio, mesmo vivo, parece ter se tornado só saudade. Outro dia ainda tentou voltar às telas, mas tudo tinha um cheiro de mofo, de coisa gasta. Foi melancólico. Mas houve um tempo em que o Chico, antes do Lula, era “o cara” do humor no Brasil. Competia com Juca Chaves e o Ari Toledo na gravação de seus shows em discos de vinil que a gente ouvia e se borrava de rir. Ao juntar-se, lá pelos 1970 e rapadura, ao Arnaud Rodrigues, falecido recentemente, fundou um grupo musical de vida efêmera, uma paródia dos Novos Baianos com um jeitão descarado de Caetano Veloso, não por menos intitulado “Baiano e os novos Caetanos”. Uma pérola dessa extinta banda de MPB.

Vô batê pra tu (Baiano e os novos caetanos)
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http://www.youtube.com/watch?v=H6_1cIFMfPs

Realismo mágico

Hoje em dia é impensável uma telenovela como Saramandaia, exibida pela Rede Globo em 1976. Para a galera acostumada com o xarope-leblom de Manoel Carlos e seus personagens de dentes branqueados tomando sucos e saladas de rúcula e gengibre (eca!), Saramandaia seria uma overdose. O folhetim carregava nas tintas do absurdo, do fantástico, do realismo mágico, e nos apresentava uma lista de personagens, no mínimo, bizarros: Zico Rosado, o coronel com formigas no nariz; a dona Redonda que, de tanto comer, explode e gera uma flor mal-cheirosa; o professor Aristóbulo, lobisomem insone; João Gibão, o homem com asas (e não é um X Men) e a grande sacada da Marcina, metáfora do cio, do desejo, na figura da mulher que incendeia camas e lençóis, pura brasa, interpretada pela jovem e tesuda Sonia Braga. Quem lembra? Eis a própria Sonia declarando-se estopim para explodir sua bomba.

Estopim da bomba (Sonia Braga)
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http://www.youtube.com/watch?v=kUKjiPGnl6g

Minha pátria é minha língua (?)

Lá pela metade dos anos 1970 virou moda cantar em inglês, foi a maneira que encontraram alguns artistas para ganhar uma graninha. Gente como o Cristian, do Ralf, e Sullivan, do Massadas, cantava na língua de Bob Dylan e nós ouvíamos aquilo achando que o cara morava em Los Angeles ou Nova York. Quem não dançou ao som do Pholhas? Hein? Para quem pensa que isso é coisa do Sepultura, do Cansei de ser Sexy, e outros moderninhos de plantão, segue uma amostra do Mark Davis...também conhecido como Fábio Junior. Essa canção foi trilha de uma novela da Tupi, se não me engano, a primeira versão de Mulheres de Areia. Será? Minha memória não é mais a mesma, mas a música vai agora.


Don't let me cry (Mark Davis)
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http://www.youtube.com/watch?v=eGIQG9lV_r0

Arqueologia

Sou um fóssil. Fiz Primário, Ginásio e, aproveitando uma mudança do ensino, um curso profissionalizante na Escola Industrial de Taguatinga. Pra quem não sabe, ou não lembra mais, na EIT tínhamos Artes Industriais no currículo. O que é isso? A gente tinha aulas regulares pela manhã e na parte da tarde trabalhávamos na oficina da escola, no torno, com madeira; com couro, fazendo bolsas, cintos, carteiras; com barro, fazendo jarros, cinzeiros, estátuas bizarras e com gráfica. Pasmem, existiu isso no currículo de uma escola pública. Era muito bom. Lembro bem dessa cena, o Hideraldo, um amigo, pedindo para parar o torno pois estava tocando uma música muito boa no radinho de pilha. Esse é o grande sucesso que envio pra vocês agora. Um genuíno exemplar de canção mela-cueca.Evoé Cronos.

The guitar man (Bread)
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http://www.youtube.com/watch?v=lVtdYKVXYhI

Cenas rurais

Em fins de 1967, meu tio mudou-se pra Jataí, sudoeste goiano, e a partir dessa época costumava eu passar as férias por aquelas bandas. Cidade pequena, produtora de arroz, acanhada, mas muito simpática. Na casa desse meu tio o fogão era de lenha e o café feito pela manhã era farto e cheiroso. A energia elétrica era artigo raro, faltava energia todas as noites, e o papo descambava para histórias de terror. Eu, menino cagão, me borrava com as histórias de assassinatos, de sequestros, de torturas. É bem dessa época a canção que agora lhes envio e que com certeza vai lhes sequestrar para antigos tempos. Boa viagem.

Serafim e seus filhos (Rui Mauriti)
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http://www.youtube.com/watch?v=cQg6noUSg-o

Irmãos coragem

Eu era muito moleque para acompanhar a aventura desses irmãos e toda a peripécia em torno de um enorme diamante. Preferia ler meus gibis da EBAL, o Tarzan, o Fantasma, o Mandrake. É inegável que os primeiros acordes dessa canção me remetem àqueles tempos de chumbo e pluma (entenda como quiser). Meu irmão, é preciso coragem.

Irmãos coragem (Tema de abertura)
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http://www.youtube.com/watch?v=mlbLsCs7UwI

Baseado em quê ?

Fomos para um showzinho no Teatro da EIT, eu e o Urias, um grande amigo. Era 1976 e minha galera na Escola era muito diversificada. Tinha os amigos nisseis, os canganguês como eu e tinha a turma da esquadrilha da fumaça. Nessa época eu estava aprendendo a tocar violão e lembro que uma das primeiras canções que fiz questão de aprender era "Pra não dizer que nao falei das flores", que a gente cantava baixinho no fundo da escola, perto da cerca dos bombeiros. Durante o show, um amigo da esquadrilha me chamou disfarçadamente no canto e mostrou um baseado. Perguntou se eu nao queria experimentar. Eu o segui e meio desastradamente estraguei o baseado dele botando a fumaça mais pra fora que pra dentro. O resultado é que nao fez efeito algum e eu comecei a achar que essa história de baseado era conversa pra boi dormir. Sei, hoje, que isso tudo não é verdade. Metade daqueles amigos da esquadrilha da EIT se foi por infarto, overdose, depressão e eu nao sei se devo lamentar não ter viajado de trem.

Viajei de trem (Sergio Sampaio)
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http://www.youtube.com/watch?v=tVPgkXqZ03g

Tecnologia

Tínhamos uma TV preto e branco, COLORADO RQ, alguém lembra dessa marca? Era enorme e o seletor de canais girava com um barulho de travas, trec, trec. Além disso, tinha um dispositivo, no próprio seletor de canais, que a gente ficava girando pra melhorar a imagem, era a sintonia fina. Lembram? A gente não tinha grana pra uma TV em cores, era tão distante quanto viajar de avião, por isso meu pai comprou uma tela tricolor que a gente colocava em frente ao tubo de imagens. TUdo pra dar a sensação de cores nas imagens. Alguem lembra? A copa de 1974 foi vista em preto e branco, mas a de 1979 já nos chegou colorida. Lembro de um programa Fantástico, lá pelos 75 ou 76, que celebrava os milhões de discos vendidos pelo Peter Framptom. Outro dia, assistindo o Multishow HD na minha televisão Full LCD (zilhões de anos luz da velha Colorado RQ), eu vi uma entrevista do Peter Framptom. Cabelos brancos, parcos, quase careca. Lembrei do menino de cabelos enormes e cacheados soprando um microfone pra tirar efeitos de um solo de guitarra. Percebi que assim como a minha velha Colorado RQ, também ficou pra trás um menino mais cabeludo e menos torto. C'est la vie, meu brother.

Show me the way (Peter Frampton)
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http://www.youtube.com/watch?v=Al9WmowJ3bQ

Morte no gramado

O Zeca era um solteirão inveterado que costumava aprontar umas e outras com uma mulherada animada e era meu vizinho no conjunto L da QE 19. Vivia só e era o cara mais chato do conjunto.Ranzinza e mal humorado. O passatempo da turma era bater uma bola na rua, chamávamos golzinho aquela peladinha de fim de tarde, em dias de semana, e de dia inteiro, nos sábados e domingos. O Zeca era o inimigo público número 1 dessa atividade. Se a bola caia no quintal do Zeca...já era. Nao adiantava brigar, espernear, xingar...fudeu com a brincadeira. Um dia,numa manhá de sol, o corpo do Zeca foi encontrado no quintal, roxo, a mangueira d`água desperdiçando litros e litros. Sofrera um ataque cardiaco fulminante e ninguem viu sua agonia, ninguem assistiu sua morte trágica. Se gritou por socorro, se gemeu um pedido qualquer, ninguem ouviu nem viu nada. Morreu sozinho, estirado no gramado que ele gostava de tratar com um mimo de solteirão. Nossas partidas de futebol perderam seu inimigo e a morte se mostrou pra gente como algo palpável. Segue uma musica de Sá, Rodrix e Guarabira, das antigas, que fala de vizinhos.

Ama teu vizinho como a ti mesmo (Sá, Rodrix e Guarabira)
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http://www.youtube.com/watch?v=ioJVXZkq9ak

Candangolândia blues

A pobre menina nasceu na Candagolândia e cresceu traumatizada com labigós. Desde cedo, como quase todos os filhos da classe trabalhadora daquele Guará dos 1970 e rapadura, deu um duro danado. Trabalhava numa grande loja de Departamentos no Conjunto Nacional, a finada Sears & Roebuck (nem sei mais como se escreve), e foi lá que ela conheceu a Liu e foi a Liu quem me falou a respeito dessa pobre garota da Candangolândia, que temia labigós e morava no Guará 2. Não perdia uma novela da Globo, nem uma Festa dos Estados pra ver os atores globais e comer camarão empanado na barraca dos Japoneses. Lembram? Pois essa menina, recém saída da adolescência, gostava de cantar os temas das novelas, como uma Macabéia de carne e osso. Mais uma canção da trilha sonora daqueles tempos.

Muralhas da adolescência (Sandra?)
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http://www.youtube.com/watch?v=5UlMV0y9Tvs

Imunização racional

Em 1976 as coisas andavam pesadas no Brasil, todos sabemos, alguns nunca percebemos. O Guará juntava uma turma boa. Uma galera aloprava e desbundava, outra se engajava e acreditava mesmo que ia mudar o pais com violões e musica de protesto. Na QE 19, lembro que havia um sujeito, o Anisio, que embarcou na nave espacial do Universo em Desencanto. Sim, aquele seita maluca que levou Tim Maia a despirocar por algum tempo e a compor um album apologético a tal seita. O Anísio, pelos idos de 1978/79, estava deslumbrado e decidido a tentar entender as letras do Ze Ramalho que, segundo ele, eram mensagens vindas do espaço sideral. Sinceramente, creio que entre os grandes mistérios do universos estão o Triângulo das Bermudas, os Buracos NEgros e, é claro, o significado das letras do Zé Ramalho, e o Anísio, para mim, estava no caminho da iluminação quântica celeste transcendental na imunização racional blá blá blá... Naqueles anos tudo era uma beleza, mesmo que nao fosse.

Que beleza (Tim Maia)
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http://www.youtube.com/watch?v=8uUfaaNq1qQ

Dançar como dança um black

Fins dos 1970. Enquanto parte da rapaziada do Guará imitava os passos de John Travolta nos Embalos de sábado a noite, o nego Alírio julgava-se descendente direto de James Brown. Lembro-me de vê-lo, a noite, na pracinha da QE 19, onde a galera se reunia pra fumar, beber Chapinha e Coquinho, a falar besteira. Usava um casaco vermelho, sapato também vermelho e uma calça boca-de-sino xadrez. Figuraça. Estávamos ouvindo Gerson King Combo num pequeno gravador National e a rapaziada toda empolgada com o soul tupiniquim executava passos que diria hoje tratarem-se de esboços do moon-walk. Nego Alírio, pelo que soube, morreu em decorrência da AIDS, e nossa alegria dançante, de alguma maneira, ficou menor. Dançar como dança um black.

Mandamentos black (Gerson King Combo)
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http://www.youtube.com/watch?v=hsLNwbUogGM

Poeira bem-amada

Na época havia poeira, muita poeira, que se tornava lama vermelha com as primeiras chuvas. Era o barro inicial cobrindo as ruas coloridas do Guará 2. Havia pouca iluminação, mas muita alegria com a turma que aprendia as coisas da vida percorrendo as quadras em sentido horário..36, 34, 32, 28...13, 15, 17 e 19. Andávamos em pequenos bandos que se reconheciam nos becos escuros. Todos buscávamos uma festa, um som que permitisse dançar colado, tirar um sarro no muro, fumando nossos cigarros ainda ingênuos, outros nem tanto. No Rádio e na tv, no horário das novelas mais sérias, o tema era único, inconfundível. Pra você relembrar


O bem amado (Coral Som Livre)
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http://www.youtube.com/watch?v=kB13-f4C_8Y

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Memória e Mp3 - Começando

Antes de começarmos nossa viagem, algumas pequenas e importantes observações. Este blog não tem nenhum fim comercial, aqui ninguem está vendendo, nem comprando, nada, apenas partilhando momentos da história pessoal e coletiva. As músicas que serão disponibilizadas encontram-se no youtube (www.youtube.com) e poderão ser baixadas utilizando-se o software Vdownloader, disponível para download (free) em:

http://www.baixaki.com.br/download/vdownloader.htm

O Vdownloader traz a opção de baixar apenas o áudio (as músicas). Divirtam-se.

E comecemos...


Dia desses estava no carro, a caminho da UnB, sob um calor dos diabos, e o rádio começou a tocar "Under my thumb". Foi imediato: como se, em segundos, me visse transportado para o ano de 1977 pelos acordes dos Stones. Naquele ano, recém-saído da Escola Industrial de Taguatinga, a primeira coisa que fiz foi procurar um cursinho preparatório para a UnB. A EIT era uma excelente instituição de ensino, mas seus cursos profissionalizantes não preparavam ninguem para uma seleção do vestibular. Havia, onde hoje funciona o colégio Sigma, na asa sul, um curso chamado Pré-Universitário, e foi lá que eu e minha namorada, a Marluce, resolvemos fazer registro, só registro, porque matávamos quase todas as aulas, e fugíamos para a 210 sul, para namorar no Food's, que depois virou Chaplin. Nessa época eu tentava tocar Stones, e em especial aquela canção que agora, dentro carro, unia o cinquentão que agora relembra e escreve ao adolescente matão de aulas. A música nos transporta no espaço e no tempo. Essa afirmação é um clichê que traz melancolia, alegria, tristeza, pois a música realmente consegue extrair do adulto sério, o adolescente apaixonado, a criança deslumbrada com o mundo, o jovem corajoso e cheio de sonhos, a lembrança de um amigo que se foi, de uma namorada que se perdeu e, porque nao dizer, de nós mesmos que se nos perdemos pela estrada do tempo? Esse blog quer registrar pequenas lembranças que remetem a essa ou aquela canção, ou, quando for o caso, a canção que se nos remete àquela tal lembrança. Tanto quanto possível, a idéia é, além de compor pequenos fragmentos de memória, fornecer um link para as músicas que os inspiraram. A participação de todos, com comentários, será fundamental para a construção de um tempo no espaço. Bem-vindos!

Under my thumb (Stones)
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http://www.youtube.com/watch?v=nYYTLJ8YHi4