sexta-feira, 7 de maio de 2010

Um instante, maestro!

O homem na televisão, muito elegante, jeitão de quem toma banho e passa talco e, por isso mesmo, com cara de tricolor enjoado (eitcha, pleonasmo, botava o indicador pra cima e dizia, cheio de autoridade e empáfia: Nossos comerciais, por favor! Ou então emendava: Um instante, maestro. A galera de hoje, que assiste o Faustão ou Gugu, não tem idéia de quem foi Flávio Cavalcanti. Vocês, velhinhos, tenho certeza, se lembram dele promovendo cantores da velha guarda, seleção de calouros, julgamentos públicos, condecorando autoridades, shows, gincanas e, principalmente, ratificando os valores da ditadura militar brasileira (baseados na família, na religião, no estado, na ordem, na disciplina, na hipocrisia do bom-mocismo, etc.) no horário nobre da TV Tupi. É notório, hoje, o engajamento do apresentador com a galera da quartelada de 1964, mas o que eu quero lembrar aqui é um quadro do seu programa onde ele, com todo o seu status de amo e senhor, decretava se uma música “servia” ou não para os ouvintes da pujante nação brasileira. Dizendo-se o “entendido” em matéria de música popular, o Flavio Cavalcanti quebrava (é isso mesmo, quebrava, estilhaçava, destruía) os discos que traziam músicas ruins. Imagine hoje o Faustão ou o Luciano “Ruqui” quebrando, ao vivo, o CD de Ivete Sangalo porque a música, a seu único e bel juízo, é ruim. Era justamente isso o que se passava com o porta-voz da quartelada. Mas uma noite, e eu me lembro bem disso, ele teceu grandes elogios a um talento jovem. A música que ouviríamos em instantes, ele dizia, era bela, poética, de muita sensibilidade. O disco de Sá, Rodrix e Guarabira (se não me falha a memória, era um compacto) salvou-se do sacrifício público e Elis Regina os gravou anos depois.

Casa no Campo (Zé Rodrix)
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http://www.youtube.com/watch?v=75LcZFvLRrQ

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