terça-feira, 18 de maio de 2010

Sexo, melancias e videocassete

O grande sonho de consumo da galera de hoje é, sem dúvidas, uma TV LCD LED FULL HD super-ultra-hiper-cool que gratina, chuleia, costura, flamba e, além de transmitir os jogos da Copa, ainda vibra, que é pra ser usada nas noites solitárias. Deixando os exageros de lado, há 25 anos atrás a bola da vez era o videocassete e foi o que adquirimos em 1985. Morávamos na 407 sul, poucos meses de casado. Era simplesmente o máximo ter um videocassete, poder locar as fitas que quisesse. Bom, pra começo de história a oferta de filmes não era lá muito animadora. Lembram que as locadoras exigiam um cadastro enorme pra você ter o direito de alugar aquelas fitas muito caras? O nosso videocassete era da Sharp, um trombolhão que brilhava no escuro e que tinha, pasmem, um controle remoto! Detalhe: com fio. Alguém se recorda de ter tido um controle remoto com fio? Isso nos permitia sentar a uma distancia de uns dois ou três metros do aparelho. Era um conforto sem igual. Pois muito bem, a história que pretendo lhes contar aconteceu naqueles dias de descoberta dessa novíssima tecnologia. Tirem as crianças da sala que não vou ocultar nadica de nada. Tínhamos alugado três fitas para o fim de semana. Lembro bem de duas delas: “Indiana Jones e os caçadores da arca perdida” e um outro filme com o singelo título, muito sugestivo por sinal, de “Oh Rebuceteio”. Meus filhos têm a cara de pau de dizer que sou um cara Sem-noção. Assim, com hífen para torná-lo um substantivo cheio de adjetivação. “Pai, você é um sem-noção”. Ao escrever esse caso, aqui e agora, começo a entender o que eles querem dizer com isso. A história foi a seguinte: convidamos dois casais de amigos para curtir a noite, tomar um vinho, beber uma cerveja, assistir os filmes. O Cesar e Liu vieram no mesmo carro com o parzinho de recém-casados Cleber e Marilene. É importante, para os fins dramáticos dessa narrativa, dizer que a Marilene nunca participou da nossa roda de amigos, nunca viu a Bandanarquia, nunca foi para bares com nenhum de nós, por ser de outra geração e, talvez, por ter outra índole. Era muitíssimo tímida, uma cristã carismática, plena de recatos. Falava baixinho como se pedisse desculpa por respirar. Para completar a platéia daquela noite de gala, eis que chegam meus pais, minha avó, meu irmão mais novo. Pronto. Assistimos as aventuras do Harrison Ford atrás da arca e depois, sem titubear, vestindo minha roupa de Super-Sem-Noção, meti o “Rebuceteio” na bocona metálica do Sharp e mandei bala. PLAY. Pense no descalabro. Um filme com um título desses só podia mesmo honrar o vocábulo esdrúxulo que encimava a capa, até discreta, da fita. Não lembro bem da história, se é que havia mesmo uma história naquela sucessão de membros e líquidos e portas e orifícios e sussurros e gemidos. Bom, creio que vocês já adentraram o clima lúbrico dessa minha lembrança. Minha vó rezava pela minha alma de um lado, mas eu percebi que, de outro lado, seu olho curtia algumas das cenas, particularmente uma em que um ator, vestido de padre, apresentava o “mistério da fé” para uma freira de boca gulosa. Meu pequeno irmão, que tinha 10 anos na época, não sabia se olhava para a TV ou se sorria de tudo aquilo. Era um sacaninha precoce. Meu pai, an old dirty man como ele só, estava adorando a sucessão de quadros que o filme oferecia, enquanto minha mãe, visivelmente irritada, resmungava pela cozinha do apartamento. Isso não é coisa para se ver com crianças, ela dizia, mas o Super-Sem-Noção se esbaldava com aquela cena de pastelão, meio Felini, meio Pasolini, não a do filme, mas a da sala do meu apartamento. A família reunida diante de imagens tão, digamos, singelas só podia ser uma cena surreal de filme italiano. Nem Almodóvar pensaria em algo igual. Na grande final da meiga película, os atores se esbaldam num banquete, divertindo-se com bananas, melancias, jacas, carnes, bebidas.

A sessão acabou, ninguém se olhava, todos com a respiração alterada, ainda sem acreditar no que se passara. No outro dia, o Cesar me disse que, na volta para casa no Guará, a Marilene, que até então se mantivera em total silêncio , comenta baixinho: Eu nunca mais vou comer melancia. É tudo verdade, meus amigos.

Je t'aime moi non plus
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http://www.youtube.com/watch?v=0uqTp71YzQw



PS: rapaziada, comentários (quaisquer que sejam) são sempre bem-vindos. Se for elogio, ótimo. Se nao, tento melhorar. Sobre o texto, sobre as músicas. E torno a repetir: se não quiser receber mais, pelo amor de Deus me avise, ok?

Bom Fim de Semana pra todo mundo, com a graça de Deus e Basquiat.

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