quarta-feira, 12 de maio de 2010

Toda donzela tem um pai que é uma fera

Em meados dos 1970 namorava a Diana, colega de Escola Industrial e de Guará 2. Ela morava na QE 32 e nosso namoro era um namoro escondido ou, pelo menos, era uma coisa velada, não lembro bem que rolo era aquele, mas a impressão que se me ficou daquele chamego todo foi essa: coisa oculta, de rosca. Se toda donzela tem um pai que é uma fera, então a Diana estava muito bem representada em matéria de pai, ou de fera. O homem era uma besta. As filhas tinham muito medo do sujeito, que parecia não ser muito condescendente com a idéia de ter um outro galo ciscando no galinheiro. E olha que eu, no máximo, seria um frangote. Certa noite, saí de casa e fui bater a porta da Diana. Ia mais cheiroso que quenga, como diz o meu sogro. O pai veio me receber com uma cara de poucos amigos. Pressenti que o bicho ia pegar, mas não arredei pé, pois sempre fui muito metido a besta e essa atitude, se eu não controlar, ainda vai me render maus momentos, exatamente como esse que vou relatar. Para meu azar, a Diana não me tinha dito que ia ao Circo, ou espetáculo similar, não me recordo bem, com a irmã, e eu bati em sua porta justamente na oportunidade que seu pai aguardava: não haveria testemunhas. Cenário: uma rua quieta do Guará 2. Noite. Personagens: Dentro do quintal, ao portão, o pai babando sua ira. Do outro lado, na calçada, o frangote atrevido procurando por sua namorada que, por acaso, era filha do sujeito. Não houve diálogo propriamente, pois diante da minha pergunta: Posso falar com a Diana? O homem disparou sua metralhadora, em alto e bom som, para todo o conjunto ouvir: Seu moleque, vagabundo, vem na minha porta procurar a minha filha, você não se enxerga, não tem vergonha, não, seu filho de uma ... conteve o palavrão e emendou ... salafrário. Não quero ver sua cara aqui por perto, a Diana não é pra o teu bico e tome achincalhe. Pense agora na cara de tacho que o Leozinho aqui ficou. Mas, metido a besta como disse que sou, antes de sair, dirigi-me petulantemente ao velho: Avise a ela que estive aqui. O cara bufou do lado de lá e eu achei melhor ir tirando o meu cavalo daquela fazenda pois já pressentia a coisa piorando pro meu lado. No sábado seguinte havia uma festa no que seria futuramente a igreja do Divino Espírito Santo, entre a QE 32 e a 34. Havia um barracão de madeira que servia de igreja e também era o lugar das reuniões do grupo jovem. Havia umas barraquinhas para arrecadar dinheiro para a construção da paróquia e nessa festinha eu pretendia encontrar com a Diana. Para meu espanto, vi, em grande e animado papo com o meu pai, a fera do meu sogro (?). Nardo, berrou meu pai ao ver-me, vem aqui que quero te apresentar um amigo meu. Amigos, eles eram amigos, pasmem. A vida é muito engraçada, parece mesmo um enredo de novela. Esse é fulano. Estendi a mão para ele. O homem não sabia onde enfiar a cara, olhou para mim com o jeito mais desconfiado do mundo e disse, sorrindo, ao meu pai: Já conheço seu filho. Ele namora a minha filha. É um menino bom. E eu tive mais uma lição de como somos todos hipócritas. A Diana me abraçou e me chamou pra dançarmos uma música bacana no barracão. Uma mela-cueca de primeira que nos embalou naquela noite. Juntinhos, cantando…

Morning, just another day
Happy people pass my way
Looking in their eyes
I see a memory
I never realized
you made me so happy, oh Mandy


Mandy (Barry Manilow)
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http://www.youtube.com/watch?v=MZ352-kAhr8

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