sábado, 1 de maio de 2010

Dentes moles e avanço powder dry, naturally

Prezado Leo,

Segue mais outra da mesma época – 1973.


Depois que o meu tutor se casou com uma paulista de Itápolis, todas as férias eram passadas naquela corruptela flintstoniana que realmente honrava o nome indígena que lhe impuseram. Durante a viagem fazíamos a grande passagem entre Minas e São Paulo atravessando uma ponte sobre o Rio Grande (achava esse nome muito maneiro, me lembrava os faroestes da época, em cinemascope) em cujo lado mineiro descansava uma cidade de nome Fronteira que tinha a estátua do bernardão , um sujeito mijando em um poste. Cara, isso era muito escroto mesmo naquela época, muito Bukowski. Pois bem, em um desses postos de estrada eu gastei minha mesada comprando um estilingue muito maneiro, todo de plástico e com o elástico e tals, parecia uma arma tecnológica somente por ter o corpo de plástico. Quando chegamos ao nosso destino (a cidadezinha de Itápolis) fomos para a chácara onde eu larguei minhas coisas no quarto e fui desbravar territórios. Nunca gostei de mato mas agora eu estava armado!! Fui catando pedras para munição e comecei minha missão Delta. Inimigo avistado às quatro horas, um bando ameaçador de galinhas. Mirei e pimba! Errei todas. Acontece que um soldado nunca desiste. Voltei minha atenção para uns porcos vietcongues e para minha surpresa errei novamente todos os meus tiros. Já puto de raiva por ter que desistir da minha carreira como franco atirador, dirigi toda minha ira para umas vacas que pastavam pachorrentas no mangueirão. Juntei a isso toda a meu asco pelo rock progressivo de atom heart mother. Apontei, mirei, estiquei o elástico até não mais poder e de repente o mundo explodiu em um zilhão de cores dolorosas!! Pranas pululavam ao meu redor e tenho certeza de que a vaca riu.
Acontece que durante a minha missão eu fiquei com a mão suada e como o corpo do estilingue era de plástico o tiro saiu pela culatra. O Corpo do estilingue atingiu meu rosto com toda a força e rasgou o meu retrato em 16x9 abalando todos os meus dentes de tal modo que tive que passar mais de mês só tomando sopa. E a dor!!!! Como doía a desgraçada da minha arcada. Tomei uma porrada de novalgina e a dor não passava. Fui no banheiro e aspirei um pouco de avanço powder dry e a dor passou. No rádio da cozinha tocava uma música do Gilbert O´Sullivan – Alone Again, Naturally. Essa música unida ao delay que o avanço causava...........uau.

Segue o link http://www.youtube.com/watch?v=D_P-v1BVQn8

Os: anos depois pude entender essa letra. O cara da música era um azarado!!

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