Foi o Régis quem cantou a bola. Ligou-me um dia dizendo que uma cantora, com quem andava tocando (o Régis é baterista, tocou conosco algumas vezes), precisava de um letrista para umas músicas. Nessa época, 1989, trabalhava numa agência da Caixa Econômicam na 515 sul, meu segundo filho estava a caminho, a música parecia ser um antigo sonho e só, tornara-me um bancário exemplar. A cantora me ligou, marcamos, e apareceu no meu apartamento por volta das 16 horas. Achei-a muito simpática, vozeirão, cabelos curtos, cara de moleca. Contou-me que conseguira um contrato para gravar no Rio de Janeiro e que o produtor, que também era compositor, lhe havia entregue uma fita com algumas músicas, sem letras. Perguntou-me se eu não gostaria de ouvir e escrever as letras. Eu disse que poderia tentar, que ela deixasse a fita comigo e eu iria avaliar a possibilidade de fazer algo legal. As músicas eram terríveis, umas coisas esquisitas com muito sintetizador. A melodia era paupérrima, beirava um axé de quinta categoria, mas tudo bem, encarei o desafio e fiz uma letra tão estranha quanto a música. Falava de um vampiro em depressão (reconheço, era piegas sim) e pelo que me lembre tinha versos como esses: Pelas noites todas sinto o vento frio da cidade /O relógio diz que pesa em meus ombros toda a eternidade... Liguei pra ela e marcamos um encontro, que se deu no apartamento que ela dividia com uma companheira, na Asa Norte. Mostrei-lhe a letra cantarolando sob a fita que rolava no gravador, mas ela, assim como eu, estava torcendo o nariz para a música (creio que só para a música). Resultado: Joga fora, no lixo (como cantaria a Sandra de Sá). Ela me disse que o Régis falara muito bem de mim, de minhas músicas. Toca uma pra nós aí? E eu, meio enferrujado, peguei emprestado um seu violão e toquei algumas músicas que ela tentou seguir solfejando. Gostou de um blues que eu tinha feito para as personagens do Fassbinder (A mulher do Fassbinder) e ficou interessada em cantá-lo nos shows que andava fazendo no Bom Demais. Percebi que eram muito tímidas as meninas. Sua companheira, meiga como uma pitanguinha, ofereceu-se para fazer uma vitamina, lembro bem, de mamão com laranja. Fumamos, bebemos, cantamos um pouco. Ela tinha ensaio, precisava ir, e eu também tinha coisas a tratar. Nos despedimos com abraços, beijinhos e um até mais. As coisas têm o péssimo hábito de tocar nossa caminhada sem aviso, sem sinal, ou será que somos nós que ainda não aprendemos a ler os avisos e sinais? Nunca mais encontrei-me com essa cantora, mas vi sua foto um dia, num disco que trazia seu nome: Cássia Eller. R.I.P.
Por enquanto (com Cassia Eller)
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http://www.youtube.com/watch?v=XVVmAG0RXmo
terça-feira, 11 de maio de 2010
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