Meu pai trabalhava nos transmissores da Radio Nacional e ia para o trabalho de bicicleta. Do Guará 2 ao acampamento da Radiobrás era um pulo pela matinha que circunda um córrego que, hoje, é o parque do Guará. Nunca gostei de bicicletas e para ser mais sincero ainda, nunca gostei de qualquer coisa que implicasse esforço físico. Adorava bater bola com a galera nos campinhos “arrança-toco” que existiam pelo Guará de lama e terra. Não era um craque, nunca fui, longe disso, mas decididamente não era tão ruim a ponto de ser convocado por Dunga. Enquanto a coisa era puro prazer, divertimento, uma peladinha sem maiores conseqüências, eu estava lá, correndo, suando a camisa, estourando os pés, na boa, feliz da vida. Mas quando alguém aventava a possibilidade de formar um time, com treino, com horário, com disciplina, hora disso, hora daquilo... batia o espírito do Adriano em mim e eu estava longe de qualquer concessão. Apesar dessa repulsa aos treinos, integrava o time que tinha, entre outros craques, o Ailton e seu irmão Marcos, dois moleques muito bons de bola; o Adão, um negão estilo Serginho Chulapa, que acreditava ser o verdadeiro imperador da grande área, mas que não passava de um perna de pau cheio de boa vontade; o José Júnior, um ponta esquerda clássico que, ao ser lançado, costumava abaixar a cabeça e disparar atrás da bola, só parando no meio do mato, bem depois do limite do campo; o Jeová, bom zagueiro que dividia comigo a função de proteger o goleiro dos atacantes adversários; Marcos, meu irmão, que sempre jogou mais bola que eu e que dava uma segurança ali pelas laterais e mesmo na cabeça de área. O Paulo Bueno, que hoje mora em São Paulo, palmeirense bom de bola e que também vestia a mesma camisa. O Betão, um negão 2 x 2, que nos dava um certo alívio para o caso de explodir uma conflito mais corpo a corpo, se é que me entendem. E esse conflito surgiu um dia quando fomos convidados para jogar contra o pessoal da atual Vila Telebrasília. Na época aquilo não era ainda a vila que vemos hoje, urbanizada, casas de alvenaria, bonita, mas uma espécie de invasão chique, no final da asa sul. Havia um campo de terra, muito melhor que os nossos e que, hoje, para quem passa por ali e vê, é um verdadeiro show de gramado iluminado. A partida correu tranquilamente e a molecada da Vila era pior e menor que a gente. O resultado não poderia ser outro: goleada na rapaziada de lá. O que ninguém esperava era a chuva de pedras que, de repente, enquanto nos preparávamos para ir embora, começou a cair. Os maus perdedores tinham também, para nossa sorte, péssima mira, e as pedras não chegaram a atingir ninguém, mas foram o suficiente para nos botar para correr de lá. Não me recordo quem nos tinha dado a carona para o jogo, a mim e a meu irmão, mas lembro que no toca-fitas do carro tocava uma velha canção de Michael Jackson.
In our small world (Michael Jackson)
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http://www.youtube.com/watch?v=dh0CWxtMZag
terça-feira, 18 de maio de 2010
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