Por quais raios e trovões da pá virada esse menino deu de aprender violão? Ouvi isso de um amigo mais velho, lá pelos 1970 e rapadura. Fazia coro com minha avó que via no violão, não a uva, mas um jeito de se desencaminhar uma boa alma de cristão. Dizia ela: violão não leva ninguem pra frente. Na época, andava empolgado com a possibilidade de me tornar um Jimi Hendrix candango. Adolescente sonha, mermão, é sempre assim, ou você acha que John Lennon, nos 1950, nao sonhava em ser Elvis Presley? Pois muito bem, comecei a torturar os ouvidos paternos, fraternos e não tão ternos assim com meus acordes mal executados. Meu pai me incentivou, comprando-me um horrível "Rei dos violões" marrom cor de merda, que me fazia suar nas pestanas. A primeira canção que sofreu com minha insistência foi "Mother", do John Lennon, pois era fácil, três acordes, sem contar uma sétima; tinha andamento arrastado, lento, dava pra trocar as posições na boa, do ré pro lá pro mi...bom demais. Depois, fiquei mais metido a besta, e emendei com "The house of the rising sun".Como todo debutante em violão, dedilhar a música do caos familiar dos Animals era o óbvio. Quando ja estava melhorzinho, conheci uma figura que tocava demais, pelo menos para os meus padrões rústicos, o Wenner era "o cara". Lembro de vê-lo com o violão, exibindo-se pra gente, e cá dentro eu dizia pra mim: Quando crescer quero ser que nem o Wenner. Hoje, ao vê-lo bonachão, no exercício constante de povoar a terra, já nao quero ser como ele, basta-me a sua amizade. Uma lembrança muito peculiar da figura brincalhona do Wenner se deu numa noite em que eu e meu irmão, andando pela quadra, nos deparamos com o Wenner e o Nego Celso, encostados ao muro baixo no conjunto I da 19, dedilhando "Love Hurts". Parei pra ouvi-lo tocar e notei que meu irmão estava muito desconfortável, só entao percebi o motivo. O Wenner, muito sacana, vira-se para o Celso e comenta, apontando para o meu irmao, esse franguinho aí é que anda a fim da minha irmã, Amarilis. Enquanto meu irmão amarelava e se escondia no ôco-shame absoluto, Wenner sorria, sem nem perceber que o amor fere e deixa cicatrizes e que talvez houvesse mesmo algo rolando entre aqueles dois. Nunca saberei. Se alguma coisa havia, parece que morreu ali, naquela noite, com trilha sonora e a risada escancarada do nego Celso.
Love Hurts (Nazareth)
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http://www.youtube.com/watch?v=L2BjJbKQkgc
terça-feira, 18 de maio de 2010
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